A nomenclatura científica ofensiva das espécies deve ser alterada?

O vídeo do podcast da Nature explora a complexidade da nomenclatura científica de espécies, abordando a história, as regras e as controvérsias em torno dos nomes científicos.

Em dezembro de 2024, a revista científica Nature lançou um vídeo onde pesquisadores discutem a complexidade da nomenclatura científica de espécies, abordando a história, as regras e as controvérsias em torno dos nomes científicos.

Aqui estão os principais pontos a se destacar na discussão:

Importância da nomenclatura

A nomeação é fundamental para a forma como interagimos com o mundo. Categorizar nos permite comunicar e compreender melhor. Os nomes científicos, geralmente em latim, são essenciais para a comunicação científica global, garantindo que pesquisadores saibam exatamente a qual organismo estão se referindo.

História da nomenclatura

Carl Linnaeus estabeleceu o sistema binomial de nomenclatura, que utiliza dois nomes (gênero e espécie) para cada organismo. Antes disso, os nomes eram longas frases descritivas, o que era pouco prático.

Evolução das regras

Inicialmente, os cientistas derivavam os nomes do latim e do grego, mas hoje podem utilizar origens de qualquer idioma, desde que sejam etimologicamente corretos. Mesmo assim, muitas regras determinam quem pode nomear um organismo e como deve realizar essa nomeação.

Processo de descoberta e nomeação

O processo de nomear uma espécie envolve vários passos:

  • O primeiro nome publicado tem prioridade.
  • É preciso verificar se a espécie já foi nomeada antes.
  • É necessário examinar espécimes físicos em museus e realizar análises genéticas.
  • Um espécime deve ser doado a uma coleção científica (algo controverso no caso de animais raros).
  • A publicação deve incluir uma descrição detalhada da espécie.

Regras e diretrizes para os nomes

Os nomes não podem ser ofensivos, devem ser pronunciáveis e não podem ser nomes de pesquisadores. Contudo, existem casos de nomes dados em homenagem a figuras controversas, como o besouro Anophthalmus hitleri, nomeado em homenagem a Adolf Hitler.

Em 1933, o ditador Adolf Hitler foi homenageado na nomenclatura científica do besouro Anophthalmus hitleri

Controvérsias sobre nomes epônimos
Os nomes epônimos, que homenageiam pessoas, são frequentemente utilizados para reconhecer figuras influentes, mas também podem perpetuar legados problemáticos, como colonialismo e racismo. Há um movimento crescente para remover esses nomes, especialmente os considerados ofensivos. Muitos pesquisadores argumentam que os nomes epônimos perpetuam legados coloniais e um sentimento de propriedade sobre o patrimônio biológico. Alguns defendem que a herança biológica pertence a todos e não deve ser associada a indivíduos específicos.

Henry Crécy Yarrow aparece no nome do lagarto Sceloporus jarrovii, conhecido como Yarrow’s spiny lizar

Mencionaram o caso do lagarto Sceloporus jarrovii, espécie nativa dos EUA e México. A espécia é conhecida em inglês como Yarrow’s spiny lizard em homenagem ao ornitólogo e herpetologista Henry Crécy Yarrow, que roubou restos mortais indígenas e os vendeu para museus.

Contra X a favor

Argumentos contra a mudança de nomes
Muitos cientistas resistem a essas mudanças, argumentando que é essencial manter a estabilidade do sistema taxonômico e da comunicação científica. Mudar nomes pode gerar confusão e prejudicar a pesquisa.

Argumentos a favor da mudança de nomes
Outros acreditam que a ciência deve evoluir com a sociedade. Há quem argumente que nomes podem ter consequências reais para pessoas impactadas por legados históricos. Além disso, defendem que a nomeação de espécies deve incluir nomes de línguas indígenas.

Alternativas para nomes problemáticos
Sugeriram que novos nomes poderiam descrever características da espécie ou utilizar nomes indígenas pré-existentes. No entanto, isso apresenta desafios, como a escolha entre diferentes línguas indígenas. Portanto, é crucial dialogar com comunidades indígenas para garantir respeito nesse processo.

A complexidade da mudança de nomes
Por fim, percebi que mudar nomes é um processo complexo, repleto de opiniões divergentes. Existem argumentos válidos de ambos os lados, e é necessário encontrar um equilíbrio entre o respeito pela história da nomenclatura e a necessidade de refletir a evolução da sociedade.

Em resumo, o vídeo mostrou como o sistema de nomenclatura científica das espécies é um tema complexo, constantemente debatido, especialmente no que se refere a nomes ofensivos ou que perpetuam legados problemáticos. Apesar de não haver consenso sobre como lidar com essas questões, o debate continua, buscando equilíbrio entre estabilidade na nomenclatura e sensibilidade às questões sociais.

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